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A guerra santa dos católicos e protestantes

Uma rixa histórica cerca as duas faces do cristianismo e se estende até os dias atuais, mas afinal, o céu é para todos?

Por:  Dayvisson Thiago

É natural se ouvir falar de conflitos no campo político e social, afinal de contas, o mundo é feito de personalidades e pensamentos diferenciados, mas e quando esses conflitos se estendem para o campo religioso? E acreditem ou não, as guerras religiosas não só existem, como dividem povos, chegando até mesmo a causar mortes. Raquel Gompy é católica e frequenta a igreja Sagrada Família em Orlando, na Flórida, com seus familiares e, segundo ela, toda essa rivalidade começou com um protesto contra a igreja católica na época, gerando os conflitos que vemos hoje.

“Ela tinha problemas, [a igreja católica] de fato. São Francisco de Assis surgiu numa época de problemas, por exemplo. E numa manifestação mística de Jesus pra ele, pediu: "Francisco, restaure a minha Igreja". Ele achou que era a igrejinha física onde ele estava no momento. Mas depois percebeu que era a igreja como um todo”, afirma Raquel.

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Daniel Santos é protestante da Igreja Assembleia de Deus, Ministério Missões e Milagres em Maceió, Alagoas. De acordo com ele, não é uma rixa que existe entre as denominações religiosas, mas uma polêmica que se estende até os dias atuais, pois Martinho Lutero não aceitava o conceito de devoção dos católicos, e com isso, indignou-se e resolveu deixar a igreja católica.

“Lutero não era condescendente com o conceito da igreja católica, pois Cristo não estava como ‘cabeça’ da igreja e sim outros santos. São Francisco e outros que se destacavam mais do que Jesus Cristo. Então Lutero, notando isso, disse como o Apóstolo Paulo em sua carta à Timóteo, no capítulo 2 e versículo 5: Só há um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo. Por isso, os protestantes viram, por meio de Lutero, o sistema errôneo da igreja católica e disseram não a tudo isso”, esclarece Daniel.

Raquel tem uma visão distinta sobre Martinho Lutero e diz que suas decisões trouxeram consequências muito graves. “Num grande resumo, Lutero, que era um padre agostiniano, começou o protestantismo negando grande parte do que a igreja acreditava durante os 1.500 anos até ele. Que teve consequências drásticas até hoje. Por exemplo, dos 7 sacramentos que existiam/existem, os protestantes passaram a aceitar somente 2: o batismo e o casamento. O resto consideraram bobagem”, declara Raquel.

Oralidade e Escrita

Nos primórdios da civilização, os homens não sabiam ler e muito menos escrever, mas a humanidade evoluiu.No passado, a igreja católica utilizava a tradição oral para repassar os ensinamentos do ideal cristão, e com a prensa de Gutenberg tudo mudou. O acesso aos livros foi ganhando cada vez mais espaço, e claro, a Bíblia teve seu apogeu, deixando a igreja temerosa.  “As primeiras comunidades católicas não tinham um livro, uma bíblia. A fé vinha pela tradição oral. A igreja começou com a tradição oral. A bíblia só foi passada para o papel no período de15 a 50 anos após a ressurreição de Cristo. Antes disso, se transmitia a fé oralmente, como os Apóstolos fizeram no começo, com os primeiros cristãos, os primeiros mártires da igreja. Mesmo tendo colocado a transmissão da fé apenas através da bíblia, Lutero ainda assim, tirou algumas partes do livro original que ele discordava, umas partes do Antigo Testamento e de uma das cartas do Novo, se não me engano”, aponta o protestante Daniel Santos.

Daniel também fala a respeito da tradição oral e da bíblia escrita e diz que, é verdade que existia a oralidade, e em Salmos 44 verso 1 diz sobre isso, mas que a partir do momento em que a Bíblia passou a ter mais acesso, logo todos podiam ter o direito de lê-la sem a interferência de ninguém. “A igreja católica sempre ocultou a bíblia, porque não aceitava que as pessoas tivessem o direito de ler e descobrir a palavra de Deus como tinha que ser”, disse.

Sagrado ou não?

Polêmicas giram em torno do cristianismo, e algo que é muito discutido e não se chega a um consenso de nenhuma das partes são os livros considerados canônicos e apócrifos. Livros canônicos são aqueles apontados como inspirados por Deus, e os apócrifos os não inspirados. Na bíblia católica existem alguns livros que para os protestantes são apócrifos e não são utilizados na liturgia dos cultos. Já os católicos consideram todos os livros bíblicos como sendo parte da história do evangelho e pertencentes ao Canon sagrado.

“Lutero realmente viu que os livros apócrifos não eram livros com inspiração divina, como os livros de Macabeus, Judite e Tobias. Esses são alguns desses livros, onde o Espírito Santo de Deus não dirigiu os escritores, eles utilizaram seus próprios pensamentos e ideias. Não eram guiados pelo Senhor. Um outro ponto importante é o fato de na época, a igreja católica vender o perdão, quando sabemos que a salvação é gratuita. Fora a pregação do purgatório e a adoração a imagens de escultura, ou seja, um Cristo morto e crucificado”, explica Daniel.

O protestante explica ainda que a devoção não é pela cruz, mas por aquele que foi pendurado e crucificado nela. “Nada mais deve ter primazia nas nossas vidas se não a mensagem da cruz. Na verdade, a igreja católica se recusa a enxergar que em Isaías 44 versículo 15, Deus abomina os ídolos e aqueles que se prostram perante eles. Deus é um ser espiritual, portanto ele quer o adore em espírito e em verdade, e não adorando ou prestando devoção a imagem de santo algum feito pela mão do homem. Eles não aceitam isso, e para os protestantes isso é um ato condenável, quando fica evidente na bíblia que só devemos adorar a um único Deus e nos prostrar somente a ele. Amar a Deus sobre todas as coisas, esse é mais importante dos mandamentos. Lutero foi corajoso o suficiente para enfrentar e corrigir os erros que havia ali, e por isso surgiu o protestantismo”, explica.

“Nós, católicos, acreditamos no paraíso, no inferno e no purgatório. E na santidade, que vai explicar e está ligada a esta questão do purgatório. Parece-me que os protestantes não acreditam na santidade, nos santos, nas pessoas se santificarem aqui na terra. Nós temos uma caminhada nesta vida, aonde vamos passando por alegrias e sofrimentos, e estes, de acordo com a vida e a intenção da pessoa, já vão purificando nosso espírito em vida. É como uma escada para o céu, você vai subindo uma escada (ou descendo. rs)”, diz Raquel.

Ela ainda esclarece que os protestantes não adoram Jesus na sua humanidade e tudo que é relacionada a ela. “Jesus não é duas pessoas. Não dá para separá-lo entre Jesus Deus e Jesus Homem. Isso não faz sentido. Na verdade, isso acaba colocando por terra o fato de Deus ter se encarnado e morrido na cruz. Deus adquiriu nossa humanidade para tornar possível nossa salvação. A partir do momento que Deus se fez carne, que Jesus tomou a forma de um homem, nós adoramos sua pessoa nas duas naturezas divina e humana, podemos resumir dessa forma um assunto que é muito mais profundo e complexo”, conclui.

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