
À DERIVA
Por: Olívio Candido
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À DERIVA
Por: Olívio Candido
À DERIVA
Por: Olívio Candido
“Cinema não se faz só com luz de estúdio, câmeras 4K e produções de tantos mil reais”.
Por: Dayvisson Thiago
Aos vinte anos, o cineasta e crítico cinematográfico Leonardo Amaral, que produziu seu primeiro curta aos 18, intitulado, “Pornô” já recebeu menção honrosa na Mostra Sururu de Cinema Alagoano, em 2017, pelo seu trabalho, “A Noite Estava Fria”. Em conversa, explica como decidiu se tornar cineasta, quais as inspirações para suas obras, das dificuldades de produzir filmes no cenário alagoano e como ele lida com as críticas. Além falar sobre suas aspirações para o futuro, e se pretende continuar produzindo filmes.
“Sinto que devemos perceber nossa condição natural de cinema marginal, cinema para além de um padrão de mercado, e produzir estéticas que se separem da dominante”.
DAYVISSON – Antes de tudo, queremos agradecer por dedicar parte do seu tempo para nos conceder essa entrevista, e a primeira pergunta não poderia ser outra, como surgiu a ideia de se tornar cineasta?
LEONARDO AMARAL – Eu acho que todo mundo tem relação com cinema em algum nível. Meus pais sempre gostaram bastante. O que me estimulou a esse nível maior de paixão e dedicação ao cinema, foi quando tinha 14-15 anos, e fui ao cinema com meus pais ver Django Livre. Logo depois meu pai começou a falar sobre o Tarantino, e como ele lida com cinema, e aí fui pesquisar os filmes dele. Obras que eu encaro como “filmes de entrada” para o mundo do cinema, que são autores como Tarantino, Scorsese e Fincher. Após Tarantino, fui pesquisar sobre os movimentos da Nouvelle Vague, Neo-realismo Italiano, Nova Hollywood, etc... Mas o meu amor pelo cinema foi consolidado vendo Django Livre, Holy Motors e A Lista de Schindler. O que estimulou o meu desejo em fazer cinema foi Hiroshima Meu Amor, meu filme favorito.

O que te levou a escolha do nome “Pornô”, para o seu primeiro trabalho como cineasta?
Eu quis o escracho, de certa forma. Queria causar algum impacto e gerar algum sentimento conturbado com o filme, e esse nome me pareceu uma boa forma. Títulos e apresentações são muito importantes pra mim em um nível conceitual e de chamamento do público.
Onde nasceu a ideia para o roteiro de “Pornô”?
A ideia surge quando eu percebo a maneira que as pessoas lidam com filmes de temáticas sociais, filmes sobre distopias, como constroem personagens que se enquadram em minorias. E me desagradava, já que eu não sentia em outros filmes badalados a complexidade que algo assim demandava. Questões de gênero e sexualidade são especialmente muito do meu interesse. Ainda dentro do escracho, eu queria fazer uma ficção científica. Eu queria fazer algo que eu não sentia que davam valor. Seria meu primeiro filme em um cenário de Cinema Alagoano, quis fugir de tudo que esperam de um filme nesse contexto.
Qual foi a reação da sua família ao saber que esse seria o nome do seu primeiro filme, eles te apoiaram?
A família me apoiou bastante. Eles não me impedem ou reprimem minhas idéias. Eu fui criado com bastante incentivo a me expressar. Não gostaram muito do filme, disseram que não entenderam, mas curtiram mais o próximo haha.
A sua obra mais recente, “A Noite Estava Fria” que recebeu menção honrosa na Mostra Sururu de Cinema Alagoano no ano passado, tem uma dinâmica que difere do curta anterior, que era uma ficção científica. Aqui, a história é sobre um relacionamento à distância entre um casal homoafetivo. O que te motivou a escolha dessa temática para o filme, algo em especial?
Eu me interesso em ser diverso e versátil. Se eu fiz uma ficção científica, vou para um drama, depois, talvez, um terror, quem sabe algo em formato documentário. “A Noite Estava Fria” é também uma resposta a como lidam com filmes LGBT em um nível internacional, nacional e local. Falaram – me que é a primeira ficção tradicional e LGBT da Sururu que não envolve violência. Quanto mais eu estudo sobre gênero, sexualidade e cinema, mais eu me incomodo com a maneira que minorias são violentadas com a promessa de uma “conscientização” de público, especialmente na maneira que essa violência é fetichizada. Isso vai desde estupro, até outros tipos de abuso. E perceba: não que é que eu acho que isso não deve ser feito. É que eu não concordo com a forma que fazem. Exemplo de cinema que lida bem com isso é o da Catherine Breillat.
Ainda sobre “A Noite Estava Fria” você sente que existiu algum preconceito por ter optado narrar uma história de amor entre dois homens, ou teve uma boa recepção?
Acho que “A Noite Estava” Fria teve uma boa recepção. A menção honrosa comprova isso. Se alguém falou mal, foi pelas minhas costas haha.
“A Noite Estava Fria” nos faz recordar do também jovem diretor Xavier Dolan, que inclusive, já venceu o Festival de Cannes em 2009. Você se inspira nas obras dele para criar as suas?
No começo foi uma inspiração forte, nos meus 16-17 anos. Com o passar do tempo fui me afastando, não sentia mais nossa linguagem se comunicando, e venho reprovando algumas escolhas dele após certos estudos e mudanças de perspectiva. Mas Dolan foi uma inspiração especialmente em nível de possibilidade. Ele conseguiu entrar em Cannes com 19 anos. Então eu
consigo fazer o que eu quiser também, ainda que eu tenha passado dos 19 haha. O importante é manter a confiança.
Além diretor e roteirista, você é crítico cinematográfico, mas como é ter que lidar com as críticas de seus próprios filmes, você lida bem com isso?
Eu amo ler críticas dos meus trabalhos. Amo e adoro independente de terem gostado ou não. Eu prefiro alguém que não gostou e escreveu algo sobre o filme, do que alguém que só diz que amou e é isso aí.
Não pudemos deixar de notar que você também escreve poemas, já pensou em adaptar algum de seus poemas para o cinema? Ou eles são apenas um hobby?
De certa forma eu já adaptei parte deles. Versos que remetem a imagens que estão em algum filme. Mas isoladamente eu trato como um Hobby, por enquanto. Venho estudando mais nos últimos tempos, porque é interessante empregar essa noção de imagens abstratas no cinema.
Tem algum roteiro que você escreveu, mas sentiu receio em produzi-lo e resolveu arquivar?
Receio que senti foi pela não possibilidade de produção, somente. Que é a maior dificuldade, pra mim. Eu não me inscrevo em editais pela burocracia e demora então eu batalho pra pensar meus roteiros da forma mais barata possível.
Qual a maior dificuldade em levar para o cinema um curta metragem, ou mesmo um longa, aqui em Alagoas?
Eu abraço a condição em que estou. Cinema não se faz só com luz de estúdio, câmeras 4K e produções de tantos mil reais. Essa noção de cinema Hollywoodiano incute a nossa. Se fosse necessário somente esses artifícios, não haveria cinema em países da Ásia e da África, por exemplo. Nem existiria cinema brasileiro. Sinto que devemos perceber nossa condição natural de cinema marginal, cinema para além de um padrão de mercado, e produzir estéticas que se separem da dominante.
Nos fale sobre suas aspirações para o futuro, e se já existe algum novo trabalho em pré-produção.
Eu decidi dar uma pausa no ritmo que estava. Tirei o foco em fazer um filme esse ano para estudar e me preparar mais. Mas ainda trabalho em alguns roteiros, vou incrementando com o tempo. Venho valorizando essa paciência e calma ultimamente, quero ver no que isso pode trazer.
E por último, queremos saber se você irá continuar no audiovisual, e qual seu maior sonho como cineasta alagoano?
Eu não tenho como sair do audiovisual. Eu faço publicidade pra ter o que comer e sobreviver, cinema pra viver. Não tenho um sonho exatamente. Gostaria de conseguir crescer e me tornar relevante. Trazer e promover mais cinema em Alagoas. Quero mais pessoas fazendo e produzindo cinema em Alagoas.