
À DERIVA
Por: Olívio Candido
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À DERIVA
Por: Olívio Candido
À DERIVA
Por: Olívio Candido
A VIVÊNCIA DAS MÃES UNIVERSITÁRIAS NA UFAL
Mães estudantes contam com doses extras de empenho e dedicação para conciliar estudos e cuidados com os filhos
Por: Caroline Sabino
O estudo na universidade normalmente já é uma tarefa que exige muito esforço e dedicação. Mas quando se é mãe e precisa, ao mesmo tempo, trabalhar dentro e fora de casa, estudar e cuidar de uma ou mais crianças, essa atividade representa um desafio a mais.
“Tento conciliar o máximo possível, mas às vezes fico demasiadamente cansada. Todos dependem exclusivamente de mim”, confessa Lourenne Lima, de 32 anos, sobre sua rotina diária. Ela é mãe de três filhos e estudante de pedagogia, na Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
A aluna, que trabalha como promotora de vendas, conta que passa o dia inteiro fora de casa e que uma das principais dificuldades da jornada tripla (mãe, dona de casa e universitária) é encontrar tempo para se dedicar de verdade aos estudos. “Minha maior luta mesmo é a minha permanência e eficiência no curso. Estudar em casa é coisa rara, pois sou eu quem cuida da casa e da comida. Fica complicado dar o meu melhor em qualquer área da minha vida”, revela.
Tamires Oliveira, de 29 anos, é professora de Geografia e está cursando a segunda graduação em psicologia, também na Ufal. Mãe de dois filhos, ela relata que, para assistir aulas, já precisou colocar as crianças em creches, deixar na casa de familiares, contratar alguém para cuidar, e até mesmo levar para a sala de aula. “Foi uma situação meio inquietante pelo receio de atrapalhar as aulas, mas, apesar de eu estar desconfortável, ela [filha] foi muito bem recebida pelos meus colegas de turma e pelas professoras”.
Além do estudo em sala de aula, há também um obstáculo no engajamento das mães em atividades extracurriculares da universidade. Tamires conta que encontra dificuldades para conseguir se encaixar em grupos de pesquisa, uma vez que é exigida dos alunos uma disponibilidade de carga horária extra. “Nas entrevistas que participei tentando me engajar, tal critério sempre foi posto como preponderante. E sempre eram escolhidos alunos sem outras demandas, como trabalho, filhos, outros projetos”, diz.
Amparo da universidade às mães
Conciliar os estudos com a maternidade, não se trata apenas de ajustar as tarefas e leituras à atenção que os filhos precisam. Na maior parte das vezes, as mães precisam fazer isso com o apoio da instituição e da comunidade universitária onde estudam.
Lourenne, que antes também levava o filho mais novo para assistir as aulas, só conseguiu tempo livre para trabalhar depois que conseguiu matriculá-lo no Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI) da Ufal, um espaço educativo destinado a filhos de servidores, de estudantes e de pais que residem nas comunidades circunvizinhas. “Foi uma benção, pois só assim consegui um pouco de tranquilidade tanto para estudar e trabalhar, quanto por saber que ele está num lugar bom para ele”, declara.
Ela também relata que no CEDU, o bloco de pedagogia, houve a implantação de um fraldário, que ela nunca chegou a usar, mas que tem servido de grande ajuda para outras mães estudantes.
Já Tamires acredita que o amparo da comunidade universitária e da universidade é insuficiente, pois o NDI precisaria ser ampliado para conseguir atender a real demanda das mães universitárias. “Poderiam existir bolsas assistencialistas destinadas às estudantes com esta especificidade e também alguma iniciativa onde mães estudantes pudessem tomar conta dos filhos de outras mães estudantes no contra-turno de seu curso e o mesmo acontecia com elas”, conta.
Conquistando um lugar na universidade
A permanência da estudante mãe na universidade é um grande desafio. E mesmo entre tantos obstáculos, essas mulheres buscam na família, na aspiração profissional, na esperança de uma sociedade melhor, a motivação para continuar seguindo essa jornada.
“Acredito ser um ato social ocupar o espaço universitário, rompendo com concepções que segregam, oprimem e determinam o papel social de uma mãe, que, segundo os moldes tradicionalistas, deve dedicar-se aos filhos e afazeres domésticos em detrimento de sua vida acadêmica e profissional”, declara Tamires, estudante de psicologia.
Para Lourenne, ocupar, como mãe, um espaço na universidade é importante para o seu núcleo familiar porque permite que seus filhos enxerguem o ambiente universitário com um lugar pertencente a eles, sentimento que ela nunca teve quando pequena. “Eu espero, sinceramente, que eles queiram entrar na universidade pública para terem minimamente uma construção integral. Por mais distante que a Ufal realmente seja do ideal, acredito ela nos proporciona isso quando queremos”, finaliza.

