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YOUTUBE: O ENTRETENIMENTO COMO CAMPANHA POLÍTICA

 

Especialista, criador de conteúdo e espectadores falam sobre o impacto e a influência da plataforma durante as eleições

Por: Mickaelen Cipriano

Desde a reforma eleitoral de 2015, as eleições passaram a ter uma campanha mais curta - a duração passou de 90 para 45 dias - além das restrições de financiamento, o que diminuiu o tempo de televisão e rádio para os candidatos. Para compensar a pouca visibilidade nos meios tradicionais, as redes sociais se tornaram um dos principais campos para a corrida eleitoral, pois são capazes de atingir grandes parcelas de público de modo instantâneo e simultâneo.

Nesse cenário, o Youtube se torna um mecanismo essencial para a propagação e permanência do produto eleitoral como artifício de divulgação de pensamento e visão sociopolítica de uma comunidade, nesse caso os usuários da internet. Tais usuários interagem diretamente com a plataforma, através dos criadores de conteúdo, a fim de adquirir conhecimento e influências com os conteúdos acessíveis na interface.

 

O MECANISMO MIDIÁTICO COMO FORMADOR DE OPINIÃO

 

O canal comunicacional entre a mídia e os influenciadores sociais é composto por três aspectos: Conteúdo, reprodução e divulgação. Juntos eles determinam como e quando o público se situarão nos temas que circulam atualmente, como, por exemplo, a política antes e após as épocas eleitorais.

Vinicius ainda assegura que atitudes como esta são bastante frequentes entre os youtubers em geral. “Todo mundo quer ter voz hoje em dia, principalmente quem quer uma carreira como influencer social, pois o que vale é o consumo e os views que vamos obter. É importante criar um pensamento crítico nas pessoas que nos assistem seja com política ou outros temas polemizados, mas veja bem, se tratando de política, quanto mais você é visto, mais você tem visibilidade. Credibilidade é uma construção gradativa do percurso. Essa é a explicação para tantos sucessos aleatórios: nossa imagem.” afirmou.

 

YOUTUBE COMO UMA NOVA MÍDIA

Deve-se reconhecer que o YouTube  marcou presença na última campanha presidencial. Ronaldo Bispo, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e especialista em Cibercultura, fala sobre como se deu esse processo por meio da plataforma e qual foi seu impacto na política em geral. “Nós temos também uma escalada do que podemos chamar de discursos de ódio, tendo alguns dados que se destacam o aumento da agressividade, sobretudo porque temos no cenário eleitoral atual, uma polarização diferente daquela anterior, PT x PSDB. Agora são marcadas de um lado, Jair Bolsonaro, um candidato com características muito específicas, que envolve discursos discriminatórios, no outro lado, a volta do PT, dos militantes e de toda uma visão muito questionada pelos casos de corrupção e por uma sensação de fracasso econômico”, diz ele.

O YOUTUBE POLÍTICO VISTO PELO ESPECTADOR

Para Sarah Felícia, estudante de Letras da Ufal, o YouTube, do ponto de vista do espectador, não tem capacidade para mudar o rumo de uma eleição. “Geralmente os canais de política falam para o nicho dos que compartilham da mesma opinião formada, os seus inscritos. Para chegar até aqueles que estão fora dessa bolha é necessário muito investimento, principalmente com outras redes sociais”, afirma.

Sarah diz que ainda assim é muito mais prático fazer esse investimento de campanha nas mídias sociais do que na televisão, basta entender como funciona o discurso do eleitor. “É preciso criar um conteúdo que o faça olhar aquilo, parar e pensar: sim, isso me representa e posso curtir e compartilhar com meus amigos e seguidores de outras redes. E esses, talvez, comentem, curtam e compartilhem o conteúdo também, gerando uma rede de engajamento”, conta.

Já Matheus Alves, atendente de telemarketing, conta que apesar do YouTube ser uma plataforma que tem grande capacidade de disseminação de informações, o seu público ainda não representa a grande massa de eleitores. “O grande público eleitor dentro do YouTube são os jovens como eu, que podem estar nas redes todo dia. Existe um grande percentual da população que não possui acesso à internet e essas pessoas só irão tomar como verdade o que for dito nas mídias tradicionais, que são mais acessíveis”, relata.

Dentro dos que acessam frequentemente a plataforma, ainda assim não são todos que consomem conteúdo político. Raramente há vídeos com esse teor, seja de campanha ou de criadores de conteúdo, voltando ao público geral do site, gerando dessa forma um público alvo e em alguns casos, restrito, porém com forte militância de ambos os lados e sempre unidos em grupos.

Yutuber Vinicius chaves
Professor Ronaldo Bispo

Para Bispo, a diferença na plataforma este ano é a popularização de algo parecido com o que houve nas eleições presidenciais norte americanas de 2016, que elegeram Donald Trump, a produção e o combate às fake news. “Com isso, essa foi a primeira eleição presidencial brasileira onde essas fake news estiveram em alta. Já estavam em eleições anteriores, porém já temos um apontamento certo do problema e sua identificação quando acontecida. Surgindo a partir disso, uma série de debates e questionamentos acerca de seu combate em meio a um clima quente em que vivemos, onde seu reflexo não é só restringindo na política, mas de uma sociedade como um todo”, afirma.

De acordo com o youtuber Vinicius Chaves, a época em que se discute política na plataforma define muito como será o reconhecimento do público, já que o propósito dos personagens por trás das câmeras é desmistificar o olhar do popular para algo da realidade atual. “O papel do formador de opinião, no caso o youtuber, é fazer com que seu público já estabelecido concorde e permaneça na bolha do canal, defendendo fortemente as ideologias e pensamentos da pessoa responsável pelos vídeos. Mas isso só é saudável quando há debate, comparações e muita pesquisa, pois se as pessoas permanecerem apenas naquele aspecto fechado e não se informarem, elas caem diretamente na teia do criador de conteúdo”, confessa ele.

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