
À DERIVA
Por: Olívio Candido
À DERIVA
Por: Olívio Candido
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À DERIVA
Por: Olívio Candido
À DERIVA
Por: Olívio Candido
OS EMBLEMAS
POR TRÁS DO PALCO
As dificuldades que os artistas locais encontram coloca em cheque a sobrevivência na profissão.
Por Mickaelen Cipriano
Alagoas tem mais de 200 anos de história no teatro. Desde 16 de setembro de 1817, o Estado constrói sua trajetória nas artes cênicas, contudo o progresso só veio a partir do período imperial brasileiro, tendo ascensão os nomes de dramaturgos e peças de teatro, de atores a atrizes de agremiações teatrais que se organizaram na época.
O primeiro teatro que foi construído em solo alagoano foi o Teatro Deodoro, em 1910, com o intuito de se evitar o esvaziamento dos espetáculos por causa da instalação nacional do Regime Republicano que ensejou o desmonte e a adaptação das referências culturais do Regime Imperial.
Atualmente, alguns teatros em Maceió tem destaque, como o já citado Deodoro, Teatro Gustavo Leite, Teatro Jofre Soares (Sesc Centro), Teatro Marista (Colégio Marista de Maceió) e Art Pajuçara. Porém, ainda é um número insuficiente comparado a outros estados e regiões do nordeste, tanto por quantidade como por qualidade, além outros fatores que fazem com que surjam alguns problemas em se fazer arte na capital alagoana, onde o cenário só piora quando comparado aos incentivos culturais no interior e sertão.
Um dos pontos mais abordados pela classe artística é a falta de apoio financeiro e cultural das grandes empresas e do governo, gerando um sentimento de abandono e consequentemente atingindo o público. A atriz e estudante de artes dramáticas, Marina Sales, fala sobre sua experiência em fazer um espetáculo e as dificuldades que teve nos preparativos.
“Há uma semana, eu e meu amigo produzimos um musical, antes disso só tinha feito musicais coreografando ou como elenco da minha companhia, produção havia feito muito pouco. No começo havíamos feito a média de custos e quando vimos no final, notamos que era um custo bem mais alto do que tínhamos planejado. Com isso tivemos que colocar um preço justo, tanto para nós quanto para o público do nosso espetáculo, porque era um musical com banda ao vivo, 8 atores em cena, produção, cenotécnico, sonoplastia, aluguel de microfones, enfim, todo o cachê dessa equipe, além do fato de que queremos ter um lucro significativo no final”, relatou Marina.
Outro problema relatado é o quadro financeiro, tanto dos artistas como de diretores e produtores e o descaso do governo sobre os incentivos da parte cultural da cidade. Além do alto custo de alguns teatros que teriam o intuito de serem acessíveis a qualquer pessoa, resultando em um alto custo o seu aluguel, principalmente na locação do espaço, deixando uma lacuna entre os artistas locais e as atrações vindas das outras regiões.
“Eu não vejo da parte do governo projetos que incentivam a fomentação do teatro alagoano. Antigamente, a Secretaria de Cultura do Estado apoiava o financiamento cultural, hoje é quase inexistente essa assistência à classe artística. Para nós obtermos uma pauta num espaço de teatro, por exemplo, no Teatro Gustavo Leite, que é um dos mais caros de Alagoas, foi construído inicialmente para facilitar o acesso dos artistas na utilização desse espaço, não cumpre com seu objetivo original, tornando-se somente um auditório para grandes atrações vindas de fora”, disse Igor Vasconcelos, ator, diretor e produtor da Cia Maria Carrascosa.
A falta de acessibilidade aos deficientes físicos é outro dilema a ser enfrentado, e esse o mais atenuante, visto que a maioria dos teatros não fornece uma estrutura básica e ideal para ter uma qualidade estável aos atores e ao público que participa daquele ambiente. Falta de rampas, locais preferenciais de estacionamento e banheiros adequados são algumas das frequentes queixas.
“Eu acho que Maceió era pra ser uma cidade extremamente cultural e tem teatros belíssimos como o Gustavo Leite e o Deodoro, porém, a acessibilidade que mais sinto falta (como bailarina e como espectadora) é a acessibilidade de deslocamento do teatro, pois no lugar de rampa, tem uma escadaria. E no outro, que foram felizes em colocar rampa, para mim que sou bailarina, o acesso ao camarim é escada. Então a acessibilidade deixa muito a desejar. Independente
de ter uma bailarina cadeirante como eu ou não, eles deveriam sim tomar como prioridade a acessibilidade. Eu sempre acabo sofrendo um pouco mais em relação a isso pelo fato de ser cadeirante. Principalmente no teatro mais antigo, onde as vezes preciso descer no meio da rua, é bem complicado. Falta muita acessibilidade mesmo”, lamenta Gabriela Amorim, bailarina e cadeirante.
Como sugestão de mudança, alguns opinam pela obrigatoriedade do teatro como disciplina nas escolas, outros acham que deveriam dar mais prioridade a falta de apoio e patrocínio dos atores da terra. O amor pela profissão, a garra, a alegria de se expressar em todas as formas, através da arte, sobrepõe todas as dificuldades nessa longa batalha que é ser um ator em Alagoas
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Além de todo planejamento administrativo e financeiro, há também outras questões que conflitam na hora de realizar uma peça na cidade, como a falta de valorização dos artistas alagoanos que, em sua maioria, recebem por volta de 150 reais de cachê, considerado o valor mínimo para um ator local.
Muitos atores reclamam ainda que o público não aceita as produções locais e que dão preferência a espetáculos vindos de fora, principalmente das regiões sul e sudeste. “É extremamente frustrante você fazer arte em Maceió, seja dançarino, ator, produtor ou cantor, é uma situação muito complicada, pois a maioria do seu público são normalmente sua família e seus amigos, dificulta muito trazer pessoas de fora, a não ser que esteja se apresentando para turistas em alta temporada. Todos esses fatores acabam por desestimular e começar a busca de trabalhos fora do estado. Não recebemos muito por peça, porque as vezes não tem condições de pagar um cachê considerável para um ator. Quem não tem o básico para se manter na profissão e não consegue trabalho por fora, acaba largando a carreira”, lamentou Marina.
