
À DERIVA
Por: Olívio Candido
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À DERIVA
Por: Olívio Candido
À DERIVA
Por: Olívio Candido
PRODUÇÃO DE MODA EM ALAGOAS
A desvalorização, tanto do governo quanto dos residentes, ao que é criado na cidade é um dos motivos da discussão
Por: Jamerson Soares
Uma estilista de Palmeira dos Índios, que já foi premiada em 1998 por sua criação na Semana de Moda em Nova York, Vera Arruda, mostrou maestria na construção de um vestuário usando materiais próprios da terra natal. Indústrias têxteis alagoanas já foram mais requisitadas que as indústrias de Pernambuco, mas que, por conta do coronelismo e a Ditadura Militar (1964-1985), foram extintas.
O estigma de empresas ou produtos desconhecidos criados no estado é recorrente entre os alagoanos. Principalmente na área de moda, cujos elementos que a compõem não são muito valorizados. Segundo o produtor de moda e freelancer, Elson Lima, “o mercado em Alagoas é muito complicado, porque é um mercado relativamente novo. A maioria das lojas é varejo e, como é algo novo, tem suas dificuldades. Acho que o que falta no mercado alagoano é ver a moda além do negócio”.
É o que afirma a professora, costureira e figurinista maceioense Andréa Almeida, que é também uma das fundadoras do curso técnico de Produção de Moda na Escola Técnica de Artes (Ufal), curso pioneiro no Estado.
“Os alagoanos não valorizam os produtos da terra, para a gente o mais importante é o que vem de fora. O que falta em Alagoas não são profissionais, é a gente se valorizar, é ter amor pelo que é genuinamente nosso. Falta política pública. É como se o coronelismo ainda estivesse aqui”, diz.
Andréa costura desde a infância e adolescência e teve sua primeira confecção nos anos 90. Logo depois se qualificou na área de moda e no meio acadêmico. Ela enfatiza que “o mercado hoje pede polivalência, pessoas que saibam muitas áreas dentro de uma só”.
De acordo com Andréa, para ter destaque é preciso estudar o ramo, saber o que vai fazer, o que quer atingir e a quem quer atingir: “Não adianta ter bom gosto e entrar no curso, é muito raso. Ter vocação também é muito bom, porém é preciso fazer bem, gostar daquilo que faz. Não existe a fórmula do sucesso, existe a do trabalho. A área de moda não é glamour, é muito trabalho”, enfatiza.
Curso profissionalizante de moda qualifica futuros criadores alagoanos
O estudante de moda e ilustrador, Islan Marinho, 26, nasceu em União dos Palmares. Veio morar em Maceió para fazer o curso e para ter um tempo maior dedicado aos estudos. Falta este último semestre para concluir o técnico.
Seu interesse pela moda veio através dos desenhos. Desde criança gostou de desenhar e só na adolescência veio seu interesse em se profissionalizar na moda. Para ele, cada vez mais o curso de Produção de Moda ETA-UFAL tem ganhado conhecimento e, com isso, o crescimento de interessados por essa profissão.
“Conheci o curso por indicação de um primo que por muita insistência me convenceu a participar da seleção. O curso tem mostrado as diferentes áreas da moda, principalmente, na área de produção, em que tem seu papel importante na hora de executar um trabalho visual. Portanto, pretendo seguir nessa área”, relatou o futuro produtor de moda.
O ano de 2006 foi marcado pela criação da Cadeia Têxtil de Alagoas, um complexo que reúne todas as empresas da área no sentido de formar um mercado voltado à produção de moda no Estado. Mesmo ano de criação do curso.
Essa iniciativa já inseriu pessoas no mercado de trabalho e formou profissionais para desempenhar atividades no ramo da moda. O curso possui matérias das mais variadas, tais como Estética, Desenho e Fotografia, e os alunos já têm vivência do mercado com visitas às lojas e indústrias têxteis locais.
Nova geração da moda alagoana tem ganhado força nos últimos anos
Há uma nova geração de produtores de moda surgindo na cidade. Aqueles que se adaptam ao mercado, os que têm sua própria identidade e marca, e aqueles que criam um conceito inovador.
O produtor de moda, estudante de ciências sociais e ex-aluno do curso, Fernando Marinheiro, é um dos estilistas ascendentes no estado. Seu contato com a moda se deu quando estava no curso de formação de ator no Espaço Cultural Salomão de Barros Lima, na antiga reitoria da Ufal, estudando teatro e conhecendo os vários campos de atuação.
Ele viu a possibilidade de ser figurinista e isso o fez abrir os olhos para algo novo. “Como não tínhamos nada relacionando a moda no estado além do básico, fui fazer cursos de modelagem, corte e costura, e daí pra frente a moda fez parte da minha vida”, lembra. O resultado dessa experiência foi a criação de sua marca Marinheiro Soul, que tem como linha conceitual o clima tropical, um pouco de regionalismo, estilo contemporâneo e roupas confortáveis.
“Trabalhar para alguma marca te dá bagagem, a sabedoria necessária para ser assertivo nas tomadas de decisões quanto ao gerenciamento e tudo o que envolve o desenvolvimento de uma coleção. Se deseja criar a sua própria, não acho que seja regra fazer esse caminho. Acho válida a criação de marcas legitimamente alagoanas, até por que todos temos algo a dizer, e a moda é um canal de expressão”, afirmou.
Elson também acha que moda é um reflexo da sociedade; moda além da arte. Decidiu cursar essa área porque sempre teve interesse, e demonstrava isso quando acompanhava os desfiles, as semanas de moda, porém a imersão veio com o curso. Com muitas experiências em ateliês de moda na cidade e trabalhos feitos como prestador de serviço para editoriais de marcas alagoanas no currículo, Elson tem se aperfeiçoado no ramo e afirma que existem sim criadores alagoanos com um olhar visionário na moda.
E ele ainda declara: “o que me dá esperança é que têm algumas pessoas muito boas que estão se posicionando no mercado [de moda]. Tenho esperanças de que a moda alagoana desponte, porque cada uma dessas pessoas tem uma identidade peculiar, (uma identidade) diferente”.

Vestuário produzido pela marca Marinheiro Soul. /foto: Bia Lopes.

Professora Andréa Almeida auxiliando uma aluna na disciplina de costura. /Foto: ASCOM UFAL

Exercício de editorial de moda feito para a marca alagoana ”Corpo leve”, o qual Islan participou como um dos produtores. / Foto: Gabriel Moreira

A marca Marinheiro Soul vem tendo um ritmo crescente no ramo da moda em Alagoas. /
Foto: Woulthamberg Rodrigues
Elson Lima nos bastidores e na confecção de trabalhos em 2017. / Reprodução: Instagram
