
À DERIVA
Por: Olívio Candido
À DERIVA
Por: Olívio Candido
À DERIVA
Por: Olívio Candido
À DERIVA
Por: Olívio Candido
À DERIVA
Por: Olívio Candido
HOMESCHOOLING:
O FENÔMENO QUE VEM CRESCENDO NO BRASIL
Por G. Kíria Monteiro
Apesar de ser um assunto que ainda não tem muita popularidade, algumas famílias estão optando pelo ensino em casa e não mais pelo sistema padrão das escolas. No Brasil, a prática não está regulamentada e gera muita discussão e polêmica. Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por maioria que a Constituição Federal não deve proibir a prática, mas ela ainda é ilegal por não ter uma lei regulamentando o ensino domiciliar. Na Constituição Federal o ensino domiciliar só é previsto no caso de doença, quando o estudante está internado e talvez precise de educação personalizada hospitalar ou domiciliar.
Apesar da ilegalidade, de acordo com a Associação Nacional de Ensino Domiciliar (Aned) cerca de 7500 famílias praticam o homeschooling (HS) no Brasil. Essa média, são das famílias que praticam o homeschooling, integral (as crianças não frequentam a escola). A família do Diego Vieira e da Patrícia Vieira pratica o ensino domiciliar há 4 anos, mas antes de tomarem esta decisão, ambos já estudavam sobre o assunto há 9 anos.
“Desde 2010 começamos a estudar e a nos aprofundar no assunto. Em 2013 conhecemos o HS e começamos a estudar sobre ele. O HS veio ao encontro do que estávamos procurando. Em meio ao grande declínio na qualidade da educação em nosso país nas últimas décadas,
queríamos uma melhor alternativa na educação dos nossos filhos”, afirma Patrícia, dona de casa e mãe homeschooler.
Patrícia decidiu não trabalhar fora de casa e se dedicar integralmente ao ensino dos filhos. Atualmente ela educa Igor, de 12 anos; Kyara, de 8 anos; Thomas, de 5 anos; e Philippe Miguel, de 9 meses. As aulas acontecem de segunda a sexta e tem o auxílio de alguns profissionais da área que são amigos do casal. Além das matérias comuns, os filhos de Patrícia fazem aulas extras como judô, ballet, xadrez, grego e latim. Também aprendem sobre o cotidiano, culinária, etc.
“Nós criamos um currículo anual com base na Educação Clássica (Artes Liberais - Trivium Quadrivium), com matérias e materiais para aplicarmos com as crianças conforme as suas idades e fases de aprendizado”, explica Patrícia.
O resultado de tudo isso é assustador: em 2018, Igor(12) leu 40 livros, Kyara(8) leu 70 livros, e Thomas(5) leu 55 livros. De leitura infantil a Sherlock Homes, Igor, apelidado de “almanaque” é viciado em livros e toda semana vai com a mãe e os irmãos para a biblioteca municipal de Blumenau/SC.
A família possui uma página no Facebook onde promove a prática e mantém contato com outras famílias homeschoolers. As famílias se reúnem periodicamente e algumas crianças estudam matérias específicas juntas. Os pais fazem a socialização dos filhos desta forma: parque, museu, biblioteca, casa de amigos, etc.
Recentemente a Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, preparou uma proposta para regulamentar o ensino domiciliar.
Uma das promessas do governo Bolsonaro foi regulamentar a prática, mas a expectativa é de que é preciso ter alguma forma de fiscalizar a qualidade do ensino proposto pelos pais.
“Esperamos que as famílias tenham mais liberdade para serem protagonistas na educação de seus filhos. Rezamos para que seja uma regulamentação justa, que não prejudique com regras abusivas às famílias que optem pela Educação Domiciliar”, explica a dona de casa sobre a regulamentação do governo.
O homeschooling chega em Alagoas
Por estar ainda em processo de regulamentação, existem alguns pontos negativos que as crianças costumam passar. “O ponto negativo que eu vejo no homeschooling é que por não ser reconhecido, não posso participar de olimpíadas escolares e concursos de educação”, comentou Matheus.
Apesar do assunto ser polêmico, os pais que decidem praticar o homeschooling alegam que a questão não é o preconceito, mas a falta de conhecimento sobre a educação doméstica. “há muito mais o desconhecimento que o preconceito, de fato. Quando expomos a nossa motivação, a realidade que vivemos e nossos objetivos há uma aceitação -e até apoio- dos que nos questionam”, afirma Maria Wilmar, mãe de Matheus.
A família de Matheus se empenha em ajudá-lo e o garoto atualmente, além das matérias comuns que ele veria na escola, ainda pratica inglês, kumon e xadrez. Segundo sua irmã, Ester Letícia, ele pode recorrer a aulas particulares se for preciso e muitas coisas mudaram com a decisão dos pais.
“A educação domiciliar mudou nossa visão, temos uma unidade familiar enorme, reconhecendo nossas diferenças como indivíduo e certamente o ponto positivo é a formação do indivíduo e a busca pelas virtudes. A concentração, o interesse por aprender, ler e escrever. Somente tivemos êxito trabalhado isso em casa, na nossa realidade. A prova de sucesso da nossa ação educativa é a felicidade do Matheus, simples assim”, comenta Ester .
Outros pais não praticam a educação doméstica integral, mas utilizam o homeschooling para complementar os assuntos da escola, é o caso da jornalista Jacqueline Freire, que mantém um blog para mulheres e faz homeschooling parcial com o seu filho mais velho.
“Acho de extrema importância essas nossas ‘aulas extras’. Só com a escola, ele certamente não teria se desenvolvido tanto. Além do mais, não nos prendemos aos conteúdos escolares. Ensinamos cidadania e catequese, por exemplo. Outra coisa, esse tempo que passamos com ele nos faz estreitar nossos vínculos e fortalece a confiança, ” diz a jornalista.
Dependendo da vertente religiosa da família, o ensino da doutrina também pode ser incluso à educação da criança, como outros assuntos que os jovens estudantes só chegam a ver no ensino médio, que é caso da filosofia e da sociologia.
Apesar da flexibilidade de horário e disciplinas extras que a educação domiciliar permite, os pais procuram as referências propostas pela BNCC, PNE e todo tipo de documento regimental da educação. Atividades extracurriculares também entram no planejamento, atividades sociais, esporte e outros cursos.
Hoje, os brasileiros que não foram à escola, para entrar na faculdade, curso técnico ou concorrer a um concurso é obrigado a fazer o Encceja (Exame Nacional para Certificação de Jovens e Adultos) para obter um certificado de conclusão de ensino médio.

Em Maceió, existe um grupo de pais e profissionais da área de educação que se reúnem mensalmente para debater e aprender mais sobre o tema, o Homeschooling Alagoas, um grupo de apoio para reunir as famílias homeschoolers do estado no ano de 2017. O número de interessados só foi aumentando e já são várias famílias que praticam a educação em casa em Alagoas.
Matheus Fausto (12) é um exemplo de estudante que é educado em casa em Maceió. O garoto recebe formação domiciliar desde 2015, decisão tomada pelos seus pais, e ele concordou com a ideia. “estudando em casa eu posso me aprofundar no que gosto, ter uma rotina organizada para mim e tenho a liberdade de estudar além do que a escola dá, com o conteúdo ao meu tempo e no meu ritmo (de aprendizado)”, afirma o jovem.
